Espetáculo Profissional

Como estamos em pleno mês de fevereiro, gostaria de fazer algumas considerações a respeito do  espetáculo do carnaval produzido pelas escolas de samba, e compará-lo ao esporte profissional no Brasil. É verdade que estes pertencem a ramos de atividades diferentes, mas ambos fazem parte da chamada “indústria do entretenimento”.
Assim como os clubes esportivos, as escolas de samba (também conhecidas como “grêmios recreativos”) começaram suas existências como entidades sem fins lucrativos, e também contribuíram muito com o processo de inclusão social e combate à discriminação racial em nosso país. No entanto, ao contrário do que aconteceu com as entidades que dirigem o nosso esporte, as ligas de escolas de samba logo perceberam o imenso potencial comercial do carnaval. Utilizando-se da estratégia de valorização do aspecto multicultural presente no evento, priorizando a organização para conseguirem bons patrocinadores, e também investindo em segurança e conforto, para atender às necessidades do público, as ligas transformaram o espetáculo numa experiência inesquecível para os espectadores e num empreendimento extremamente lucrativo para organizadores e investidores. Além disso, todo o encanto de nossa principal festa popular tornou-a um grande produto de exportação, pois, diferente do que se possa imaginar, para quem vive do carnaval a temporada não se resume somente ao mês de fevereiro. Várias escolas têm excursionado mundo afora, para divulgar nossa cultura, através da performance de seus integrantes. Profissionais estes, aliás, muito respeitados em nossa sociedade atualmente, e bem remunerados também. Para se ter uma idéia, muitos passistas possuem rotinas de preparação similares a de atletas profissionais. Além destes, compositores, instrumentistas, intérpretes, coreógrafos e artesãos, tem sido aclamados como grandes artistas. Mesmo que as quadras e barracões ainda pareçam um tanto quanto rústicos, as escolas de samba perderam muito do romantismo do passado, e adquiriram status de verdadeiras empresas que contribuem para geração de empregos, e também para uma melhora na qualidade de vida dos membros das comunidades onde estão situadas.
E o esporte? Bem, na segunda metade do século passado, muitos clubes extinguiram suas equipes competitivas por preferirem permanecer no amadorismo e, até o começo da década de 1980 a legislação proibia o patrocínio em camisas de agremiações esportivas, pois, alegava-se que o esporte de competição deveria ser praticado apenas em “caráter patriótico”. Dessa forma, mais de três décadas depois, a maioria dos clubes esportivos brasileiros não consegue organizar uma estrutura financeira sustentável para manter suas equipes sempre competitivas. Como consequência, nossos melhores esportistas não permanecem no país, o que diminui a qualidade dos “espetáculos”. Além disso, a precariedade das instalações esportivas e a falta de segurança contribuem para a ausência de espectadores e, por fim, para o desemprego de muitos profissionais.
O mais incrível é que estamos prestes a realizar pela segunda vez na história uma Copa do Mundo de Futebol!
Por tudo isso, acredito que o sucesso alcançado pelas escolas de samba dentro e fora do país deveria servir de exemplo aos clubes e às entidades responsáveis pelo esporte no Brasil.
Um excelente carnaval para todos!


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